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  • Foto do escritorBeatriz Silva

Verão na praia

Atualizado: 30 de mar. de 2020

Desde 2017 que passo os meus verões na praia. Muitas vezes, passo lá o dia inteiro. De manhã tenho o privilégio de ouvir as gaivotas que voam, felizes, até às redes do peixe. Ao fim do dia, sinto a magia do pôr-do-sol, este que nos abandona, deixando-nos um céu repleto de tons quentes.





Independência

Sair da asa dos nossos pais é um passo muito importante no nosso crescimento. É o momento em que aprendemos a voar sozinhos.

Sempre fui um ser humano muito independente. Os meus pais sempre me educaram para isso. Desde pequenina que me incutiram o verdadeiro sentido da palavra "desenrasque". Quando caía, eles estavam lá, mas não para me ajudar a levantar. Ouvia as vozes deles, atrás, a ensinar-me qual a melhor forma para me levantar, sozinha. E só tenho a agradecer por isso.


Aos dezassete anos, decidi que queria trabalhar nas férias de verão. Senti que os meus pais não tinham de suportar os meus caprichos, muito menos num período de entrada na universidade. E assim foi. Comecei por trabalhar num café-restaurante, no concelho da Figueira da Foz e é naquele cantinho que ocupo todos os meus verões. É naquele cantinho que vejo as gaivotas e o pôr-do-sol.


Maré Viva


Um espaço liderado pela dona Natália, uma senhora loira e pequenina, muito focada, trabalhadora e persistente. Já com os seus setenta anos, ensinou-me grandes lições para o mercado de trabalho. Com ela aprendi que nem todas as pessoas são boas, como nós. E é preciso saber lidar com elas da melhor forma. Cruzam-se muitas no nosso caminho, umas muito difíceis de agradar, outras teimosas, outras descompensadas, outras muito simpáticas, outras com um coração de ouro. Enfim, o que importa é termos capacidade para olhar para elas como um ser individual. Cada um é como cada qual, e as pessoas exigem que lidemos com elas de forma adequada.


Negócio à beira mar

Café-restaurante e turismo rural. Como é bom acordar com vista para o mar, sem pensar no amanhã. Como é bom sentar-me na esplanada a desfrutar de uma feijoada de búzios. Como é bom mergulhar e sentir o sal na pele. Como é bom viver.

Sendo um espaço de turismo rural, vi-me obrigada a desenvolver muitas competências que hoje fazem parte de mim e me enriquecem, tanto a nível pessoal como profissional. A afluência de ingleses, holandeses, alemães, espanhóis, franceses e outros estrangeiros, fez com que desenvolvesse as minhas aptidões nas várias línguas. Posso dizer que domino o francês, simpatizo com o inglês e quanto ao espanhol, fico-me pelo portunhol, como boa portuguesa que sou. Além disso, sinto que apurei a minha veia responsável, sendo que fico muitas vezes encarregue de assuntos relacionados com a gestão, quer do espaço do café-restaurante, quer do negócio de turismo local. Fico encarregue de organizar e fazer os menus, decoração do espaço e receção dos turistas.


Escolhas


Claro que me custa pisar a areia e mergulhar no oceano apenas com o olhar, claro que me custa ter de recusar não passar a tarde inteira a jogar cartas com os meus amigos. Mas tenho consciência de que a vida é feita de escolhas, e esta foi a minha. A teoria de que "há tempo para tudo" é real, é mesmo.


Quando idealizamos um caminho de auto conhecimento e crescimento, apercebemo-nos facilmente de que somos nós que escolhemos o rumo que a nossa vida leva. Somos nós que escolhemos com quem queremos passar o resto da vida. Somos nós que escolhemos com quem queremos ir beber um copo nas festas da aldeia. Somos nós que escolhemos quem queremos abraçar quando estamos mal. Somos nós que escolhemos não sobrecarregar os nossos pais. Somos nós que escolhemos ver as gaivotas de manhã e o pôr-do sol ao fim do dia, mesmo que no local de trabalho. Somos nós que escolhemos. E é tão bom ter essa liberdade, é tão bom podermos voar sozinhos.



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